Por Nira Bessler, lifelong learner, especialista em aprendizagem de adultos e apaixonada pelo tema.
A partir deste mês, vamos começar uma série de artigos. Em cada um, vamos abordar um aspecto relevante da aprendizagem de adultos. Os artigos são baseados em pesquisas de diferentes áreas, incluindo andragogia (a “pedagogia” dos adultos), psicologia comportamental e neurociência. Aí está o primeiro!
Você já tentou aprender um novo idioma? Inglês, por exemplo. Quando termina uma aula, acha que é suficiente para dominar todo seu conteúdo e prática? A não ser que você seja um gênio do inglês, acredito que sua resposta tenha sido não.
E por quê? Porque simplesmente não é assim que funciona o processo de aprendizagem para nós, meros humanos.
Não fazemos downloads de conhecimentos como se fôssemos uma máquina.
Não somos esponjas que simplesmente absorvem conteúdo.
Todo processo de aprendizagem é ativo – e o tempo e os hábitos são seus aliados.
Como assim toda aprendizagem é ativa? A ideia é basicamente que precisamos nos mobilizar para aprender. Dedicar atenção, reflexão e energia. Não basta estarmos expostos a uma informação para aprendê-la (o gif abaixo é um bom exemplo!).
Você já deve ter percebido isso, quando, por exemplo, foi a uma palestra superlegal e poucas horas depois já não lembrava de muita coisa que foi dita. Ou quando leu um livro muito bom, com dicas ótimas, mas depois se viu fazendo as coisas da mesma forma que fazia antes.
Um exemplo pessoal: decidi no final do ano passado começar a estudar alemão, um idioma com que tenho muito pouco contato. Iniciei pelo Duolingo, um aplicativo que é praticamente um joguinho. Como faço? Jogo todos os dias por 15 minutos – ou até menos tempo. Mas mantenho a regularidade.
O hábito é mais importante para a aprendizagem do que a dedicação por muitas horas seguidas, de uma vez só.
Você já ouviu falar em spaced learning? O Duolingo é um aplicativo que usa este conceito.
Inúmeras pesquisas demonstram que nós aprendemos melhor quando nos dedicamos espaçadamente a um tema, em vez de ficar incansavelmente por muitas horas embrenhados em um único assunto.
Algumas pessoas falam do spaced learning como uma repetição espaçada. Mas não se trata exatamente de uma repetição monótona. O tédio não é muito amigo da aprendizagem. Trata-se de uma prática com um certo espaçamento de tempo, mas em que é importante vivenciarmos alguma evolução, e, também, alguma emoção. Conexão e interesse são elementos fundamentais da aprendizagem.
E qual é a relação disso tudo com aprendizagem corporativa?
Ter contato com um determinado conteúdo apenas uma vez dificilmente vai
gerar o resultado esperado.
Às vezes, é isso que acontece com alguns treinamentos. Nos limitamos a um evento de aprendizagem e não damos continuidade. É preciso planejamento para que não se concentre todo o conteúdo numa tacada só, esperando que o profissional passe a agir de modo completamente diferente de um dia para o outro.
Uma outra forma bem humorada de ver isso está nesta charge do livro “6Ds: as seis disciplinas que transformam educação em resultados para o negócio”.
Pois é, não acontece um milagre após um único evento de treinamento. No fim das contas, aprender não é um evento, é um processo humano. E, como todo processo, precisa de tempo e regularidade. Basta refletir sobre sua própria história com aprendizagem. Como você vem aprendendo ao longo da sua vida?
Resumindo
● Não basta estar exposto a uma informação para aprendê-la
● Todo aprendizado é ativo e depende da mobilização e interesse do aprendiz
● Aprender espaçadamente é mais efetivo do que a dedicação por muitas horas seguidas
● Aprender não é um evento, mas um processo humano, que precisa de emoção, tempo e
regularidade
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