Por Nira Bessler, lifelong learner, especialista em aprendizagem de adultos e apaixonada pelo tema.
Já ouviu falar em aprendizagem ativa? Segundo o relatório O Futuro do Trabalho, publicado pelo Fórum Econômico Mundial em dezembro de 2020, ela é uma das habilidades mais desejadas pelas empresas hoje. E a tendência é que sua importância só aumente no futuro.
Mas o que é aprendizagem ativa?
Quem trabalha com educação pode fazer confusão entre este conceito e o de metodologias ativas de ensino, que na verdade não são habilidades, nem competências. São formas de desenvolver aulas que estimulam a participação e a autonomia dos estudantes dentro do sistema formal de ensino.
Será que é a isso que o Fórum Econômico Mundial se refere?
Basta uma análise rápida do relatório para perceber que não. A definição oficial é: “compreender as implicações de novas informações para a resolução de problemas e tomada de decisões atuais e futuras.”
Ou seja, está dentro do guarda-chuva das atitudes interpessoais e, mais especificamente, do autogerenciamento.
Resumindo, é a capacidade pessoal de gerenciar o próprio aprendizado de forma ativa e como parte do dia a dia, para resolver problemas e tomar decisões. Um outro nome para esta habilidade é aprendizagem autodirigida.
Então, uma pergunta a você: quais são suas principais estratégias para aprender? De que maneira você decide o que e como vai se lançar em um novo projeto de aprendizagem? Quanto tempo vai dedicar a ele?
Muita gente tem dificuldade de responder a essas perguntas, porque associam imediatamente a ideia de aprender à de fazer um curso. Mas apesar da educação ser parte do processo, ela não é o único caminho.
O processo educacional criou rituais para tentar organizar e otimizar aquilo que aprendemos (nem sempre com sucesso). Mas aprender é um processo biológico, que acontece independentemente de estarmos em uma sala de aula ou em um passeio na praia.
Aprendemos o tempo todo a partir dos estímulos e dos padrões do ambiente que nos cerca. E se aprendemos o tempo todo, então para que precisamos desenvolver uma competência relacionada a isso? Bom, porque intenção e reflexão levam nossos aprendizados para outro patamar.
Quando nos deparamos com um problema no trabalho, podemos ignorá-lo, tratá-lo como um obstáculo intransponível, tentar jogar no colo de outra pessoa para resolvê-lo, ou… Podemos usar nossa capacidade de pesquisar, refletir, conversar e experimentar para buscar soluções.
Aprendizagem e educação
É desta segunda forma de lidar com situações do dia-a-dia que o Fórum Econômico Mundial trata. Não apenas para resolver problemas – este é apenas um exemplo – mas também para decidir ativamente o que, como, onde e quando iremos nos dedicar a um aprendizado, sem depender necessariamente de uma aula para isso.
Uma dificuldade no Excel pode ser solucionada com pesquisa ou com uma conversa com alguém mais experiente. Um texto pode ser melhorado com uma revisão crítica de colegas e amigos (como foi o caso deste que você está lendo). Um comentário negativo de um cliente pode ser a oportunidade para melhorar um processo. Para tudo isso, é preciso estar atento.
Veja bem, a educação formal e os treinamentos integram o processo de aprendizagem. Como tal, fazem parte das nossas possíveis escolhas quando precisamos aprender algo novo.
Eu, por exemplo, busco desenvolver minha aprendizagem autodirigida e, também, decidi fazer um mestrado. Adoro participar de cursos e ofereço treinamentos! Não há nada de contraditório nisso. Não existe uma oposição entre aprendizagem e educação. O que há é uma diferenciação: aprender é um processo humano, a educação é uma estrutura que busca otimizar este processo, mas não é o único recurso.
Então, convido você a refletir: de que forma você aprende no dia-a-dia? E de que maneira você pode começar a observar suas estratégias atuais e, intencionalmente, agir na direção do desenvolvimento da sua capacidade de aprender ativamente?
Uma sugestão para um pontapé? Que tal começar com uma pesquisa sobre aprendizagem autodirigida? Talvez mesmo com uma simples busca no Google. Este exercício pode ser uma sementinha no caminho da sua autodireção.
