Se, por um lado, as máscaras que todos nós tivemos que nos acostumar a usar passaram a ser uma proteção imprescindível contra a maior crise sanitária do Brasil e uma das maiores da humanidade, por outro podemos considerá-las um obstáculo para a expressividade. Além de não colaborarem para uma respiração, digamos, mais fluida, as máscaras também escondem nossas expressões faciais e tornam a comunicação mais fria.
Não! Esse texto não é uma ode ao abandono das máscaras – aliás, dependendo de onde você está agora, espero que esteja usando a sua (fica a dica). O ponto aqui é outro: será que antes da pandemia você já não usava máscara? Mais: será que após a pandemia não seguirá usando? Não me refiro à máscara como uma questão de saúde pública. Tampouco no sentido de disfarce, fingimento ou falsidade. Estamos falando de oratória.
A oratória é uma habilidade-base, de primeira camada, que circunda toda e qualquer dimensão da vida humana. Uma fala segura, clara e assertiva nos encoraja a dividir o que pensamos, a expressar o que sentimos, a ter mais confiança no dia a dia para enfrentar os mais diversos desafios na vida afetiva, pessoal, profissional. Mas será que pesamos isso no cotidiano ou falamos com pitadas de monotonia, previsibilidade e zona de conforto?
É comum que se pense a oratória num sentido mais clássico, que pressupõe um palco, um púlpito, uma plateia e uma lógica discursiva. Pode até ser. Mas, alto lá, ela não se circunscreve a essa dinâmica. Prefiro enquadrá-la como um conjunto de técnicas e práticas em favor de uma comunicação mais humana e envolvente, independente do contexto. Nesse sentido, vou me ater a dois aspectos que, se bem dominados, fazem a diferença: respiração e expressões faciais.
Respirar não é apenas o processo mecânico de se colocar ar para dentro e para fora do corpo. Quando consideramos a comunicação, oxigenar o corpo é também acalmá-lo – convenhamos, dependendo do desafio, falar pode ser muito estressante. Com pausas bem calculadas, quem fala também contribui para a assimilação de quem ouve. Pausar é também enfatizar, lançar reflexão, dar tempo ao outro. Observar as pistas que o público oferece. Encontrar, no silêncio, o reforço para o que disse com corpo e voz.
Essa busca pelo outro pressupõe saber ouvir, claro, especialmente quando o contexto é o de um diálogo, uma troca mais horizontal. Mas independentemente do contexto, no limite, um dos ingredientes que nos torna humanos é a emoção. Daí que as expressões faciais são centrais para se temperar a comunicação. Nada de exagero ou de atuação; tudo de naturalidade e de estilo próprio. Não usar expressões faciais, no entanto, não é uma opção. Emoções primárias como alegria, tristeza, medo, raiva, são temperos de uma linguagem universal dos sentimentos humanos.
Imagine conversar com alguém que não reage a nada do que você diz ou não expressa nenhuma emoção com o rosto quando fala. Não é estranho? Pense, agora, no oposto. Considere alguém que, ao falar, muda o rosto em linha com o assunto – sorri ao trazer algo positivo, retrai o olhar ao endereçar tema mais delicado – com naturalidade, sem excessos que abram margem para o artificial. Bem diferente, não? O mesmo para aquele que pausa adequadamente, que respira entre as frases – e permite que você respire também. Nada mais chato que conversar com alguém que atropela as ideias.
Como antecipei, não nego: as máscaras nos desafiam na busca por uma fala mais expressiva, de maior brilho, pois exigem ainda mais esforço de nossa parte para comunicarmos efetivamente o que queremos, da forma como devemos. A boa notícia, no entanto, é que elas vão passar… Mas e a sua busca por uma oratória cada vez mais consciente? Espero que esta busca não passe nunca. Até porque não há busca mais saborosa – quem fala bem que o diga em alto, claro e bom som.